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28 de fevereiro de 2018

RELATO - O ESPÍRITO DA CACHOEIRA



Lake District (Reino Unido). Junho de 1922.

"Estou num caramanchão* de samambaias e rochas, um verdadeiro reino da fantasia. O espírito da cachoeira surge ocasionalmente sob a forma de uma mulher nua, de tamanho natural e singular beleza. Ela se distingue por alguns detalhes da ondina já observada; é muito maior do que os exemplares até agora vistos, possui inteligência mais desenvolvida e é alada. Parece incorporar-se às rochas, às samambaias e aos musgos, bem como à própria cachoeira. Quando foi vista pela primeira vez, ela saltava para fora da rocha maciça - uma figura de esplêndida beleza - após o que pairou no ar por alguns instantes e, em seguida, desapareceu. Tal sequência foi repetida diversas vezes e, visível ou não, a sua presença pode ser sempre nitidamente sentida.

Sua figura é formosa, nela predominando o rosa-claro. Sugere uma estátua de mármore trazida à vida. Os cabelos são claros e lustrosos, a fronte alta, os traços maravilhosamente proporcionais, os olhos grandes e brilhantes e, embora a sua expressão tenha alguma coisa do espírito das feras, o seu olhar não é desagradável. As asas, que parecem originar-se à altura das omoplatas, são pequenas em relação ao resto do corpo e seguramente não serviriam ao voo, se fosse este o seu propósito; são também de cor rosa-claro. Ainda mais impressionante é a auréola, em forma de arco-íris, que a rodeia, tal como um halo solar. Tal auréola possui um formato quase esférico e consiste de faixas concêntricas e uniformemente distribuídas com matizes suaves, porém, intensos. As suas cores são inumeráveis e pulsam com muita rapidez para que eu possa distingui-las, mas pelo visto abrangem todo o espectro, desde os tons mais fracos, com uma possível predominância do rosa, do verde e do azul. Algumas faixas coloridas são guarnecidas por uma chama dourada, além da qual uma irradiação intermitente de branco e nácar (perolada) proporciona uma beleza suplementar. Saindo da cabeça, um potente fluxo de energia interfere com a aura, gerando uma irradiação em forma de leque. Tal fluxo parece provir de um ponto localizado no centro da cabeça, onde existe um núcleo dourado e brilhante, um pouquinho abaixo do nível dos olhos e a igual distância deles. O contato com semelhante criatura constitui uma iluminação, e eu gostaria de poder encontrar palavras para descrever não apenas o esplendor de sua aparição, como também o maravilhoso sentimento de exaltação e autenticidade que ela proporciona. O lugar vibra com a sua energia."

(Um pouco mais tarde)

Ela reaparece: desta vez, traz um cinturão incrustado de pedras preciosas, cujas extremidades se cruzam e caem sobre o flanco esquerdo. Tais pedras não se assemelham à jóias nenhuma do nosso conhecimento, sendo grandes e apresentando uma luminosidade intermitente; o cinturão é feito de um material que emite uma vaga luz, apresentando o aspecto de uma cota dourada de textura extremamente fina."



*caramanchão: é uma estrutura leve construída em parques ou jardins, geralmente de madeira, que se pode cobrir de vegetação e usar para descanso ou recreação; caramanchel.


Fonte: Livro O Reino dos Devas e dos Espíritos da Natureza - Geoffrey Hodson. Editora Pensamento. Tradução de Hugo Mader. Título do original: Fairies at work and at play.


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